quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Joyce Para Todos

" Umas batidas leves na vidraça fizeram-no virar-se em direção à janela. Recomeçava a nevar . Sonolento, ele observou os flocos prateados e escuros, caindo obliquamente contra a luz do lampião. Chegara o momento de iniciar sua viagem para o oeste.É, os jornais tinham acertado: nevava em toda a Irlanda. Caía neve por toda a sombria planície central, nas montanhas desprovidas de árvores, nevava com brandura sobre o Blog of Allen e, mais para o oeste, nevava delicadamente sobre as ondas escuras e rebeldes de Shannon. Caía também no cemitério solitário da colina onde jazia Michael Furey. Acumulava sobre as cruzes inclinadas e sobre as lápides, sobre as pontas das grades do portão, sobre os espinhos. Sua alma desfalecia-se lentamente enquanto ele ouvia a neve precipitando-se placidamente no universo, placidamente precipitando-se, descendo como a hora final sobre todos os vivos e todos os mortos ".

James Joyce, Dublinenses/ Os Mortos.

O parágrafo final deste Conto de Joyce é fantástico, um dos grandes momentos da literatura do século XX( a meu ver, é claro).É poético e manso como a morte, lembra a saudade de um lugar onde nunca fomos...é possível sim ouvir o discreto ruído da neve caindo, silenciosamente, placidamente, sobre todos os vivos e os mortos. A filmagem de John Huston para este conto também é magistral ( acho que Angelica Huston, a filha, está presente ).

2 comentários:

  1. Custei mas cheguei.

    Comprei Dubliners num sebo há alguns anos e sei lá por que razão ainda não li. Acho que chegou a hora de corrigir essa falha.

    Abraço,
    Helô

    ResponderExcluir
  2. Bem vinda guria, sei que lê Joyce no original em inglês, então compartilha conosco e posta de vez quando por aqui !

    ResponderExcluir